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Uso de testosterona em mulheres. O que dizem as diretrizes?

A causa da disfunção sexual é muitas vezes multifatorial e pode incluir problemas psicológicos – como depressão ou ansiedade – conflitos no relacionamento, falta de estímulo das zonas erógenas, fadiga, estresse, falta de privacidade, problemas relacionados a abuso sexual anterior, uso de medicamentos, doenças endócrinas (em especial, doenças de tireóide e hiperprolactinemia) ou problemas físicos que tornam a atividade sexual desconfortável – como endometriose ou síndrome geniturinária da menopausa.

Atualmente, a única indicação presente nas Diretrizes para o uso de testosterona em mulheres é após a menopausa, no tratamento do Transtorno do interesse/excitação sexual feminina (TIES).

Mas o que é esse Transtorno?

Você pode nunca ter ouvido falar nesse nome, mas é uma das disfunções sexuais mais comuns entre as mulheres. O TIES englobou um conceito antigo (que talvez você já tenha ouvido falar) chamado de “transtorno do desejo sexual hipoativo”.

Mas quais são os sintomas do TIES?

Uma forma bem comum de manifestação, por exemplo, é a ausência ou redução acentuada do desejo ou motivação para a prática sexual.
Os critérios de inclusão do TIES são os seguintes:

I) redução ou ausência de interesse sexual;
II) redução ou ausência de iniciativa ou receptividade sexual;
III) redução ou ausência de fantasias ou pensamento eróticos;
IV) redução ou ausência de excitação/ prazer sexual;
V) redução ou ausência de sensações genitais e não genitais.

O diagnóstico é clínico e não necessita da dosagem dos níveis de testosterona da mulher. Você sabe o porquê?

Primeiro, os métodos laboratoriais de dosagem de testosterona disponíveis foram feitos para homens, que têm valores de testosterona 3-10x superior ao das mulheres. Logo, não conseguem dosar de forma confiável valores mais baixos e que são normais em mulheres.

Segundo, não existem evidências de que baixos níveis circulantes de testosterona possam ser responsáveis pelas alterações na função sexual feminina. Não obrigatoriamente o nível androgênico baixo é o fator determinante da disfunção e isso foi demonstrado em diversos estudos. Fortalece ainda mais essa teoria o fato de sabermos que mulheres com altos níveis de andrógenos devido à Síndrome dos Ovários Policístico (SOP) não apresentam efeitos sexuais benéficos. De fato, a função sexual em mulheres com SOP parece ser semelhante ou pior em comparação com as sem SOP.

Eficácia

Uma revisão sistemática com meta-análise realizada em mulheres na pós-menopausa com Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo mostrou efeitos benéficos do uso de testosterona sobre o placebo nos seguintes domínios de função sexual: desejo, excitação, orgasmo, capacidade de resposta, autoimagem e redução da angústia pessoal relacionada a sexualidade.

Via de administração e dose

As doses não devem exceder as concentrações fisiológicas observadas nas mulheres no período reprodutivo. Isso garante que efeitos adversos como aumento de pelos, queda de cabelo, acne, hipertrofia de clitóris, engrossamento da voz, entre outros não ocorram.
A via de administração deve ser transdérmica e não oral. Chips/implantes hormonais contendo testosterona não tem estudo de segurança e não devem ser utilizados.

Segurança no longo prazo

O estudo mais longo que temos durou 2 anos. Nele, o uso da testosterona em doses fisiológicas em mulheres sem doença cardiovascular ou histórico de câncer de mama não foi associado ao aumento de risco de doenças cardiovasculares, câncer ou qualquer outra doença grave.

Limitações

No Brasil, não existe nenhum produto aprovado pela ANVISA. Logo, para o utilizar a testosterona transdérmica é necessário manipular.

Dica

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Este texto foi escrito pela Dra Luciana Sampaio Péres (@endocrinoluperes) em colaboração com a ginecologista Dra Nadiessa Almeida (@nadiessalmeida).

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