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Tratamento do Transtorno da Compulsão Alimentar

O transtorno da compulsão alimentar (TCA) é descrito no DSM-V como episódios recorrentes de ingestão de grandes quantidades de alimentos, seguidos por desconforto físico, sofrimento emocional e sensação de perda de controle. Toda intervenção do TCA exige uma prévia e global avaliação do paciente para planejar o tratamento, devendo incluir:

a) Avaliação psiquiátrica: com o objetivo de diagnosticar alguma outra doença psiquiátrica que possa estar associada. Nesse sentido, cabe salientar que a presença de um outro diagnóstico psiquiátrico (como transtornos depressivos e ansiosos, bem como transtornos por uso de álcool e outras substâncias) é muito comum em pessoas com TCA, devendo ser adequadamente tratado para que o tratamento específico do distúrbio alimentar seja bem-sucedido.

Outro aspecto relevante a ser compreendido é a relação da pessoa com o próprio corpo: a importância do peso e da forma corporal na auto avaliação; as preocupações com peso e forma; a presença de checagens corporais ou comportamentos evitativos dirigidos ao corpo (como, por exemplo, evitar saber o próprio peso ou ver a própria imagem em espelhos); e o impacto do problema alimentar no funcionamento psicossocial (nos relacionamentos, no trabalho e na qualidade de vida).

b) Estado médico geral: avaliação do peso, IMC, circunferência de cintura, pressão arterial, diagnóstico de alguma comorbidade que possa estar associada como Diabetes tipo 2, por exemplo. Exames laboratoriais também são solicitados de acordo com a anamnese e o exame físico. Cabe aqui mencionar que a presença de sobrepeso ou obesidade costuma ser frequente em pessoas com TCA, estando associada ao comportamento de compulsão alimentar.

c) Estado nutricional: deve-se avaliar o histórico do peso ao longo da vida e histórico de dietas, o padrão alimentar atual, a característica, a frequência e a intensidade dos episódios de compulsão e o nível de atividade física.

OBJETIVOS DO TRATAMENTO

Os objetivos do tratamento incluem:

• Reduzir ou eliminar episódios de compulsão alimentar;

• Reestabelecer um padrão de alimentação regular;

• Desenvolver hábitos alimentares saudáveis;

• Tratar complicações físicas, incluindo sobrepeso e obesidade;

• Reduzir preocupações excessivas com a imagem corporal;

• Tratar comorbidades psiquiátricas como ansiedade, depressão ou transtorno por uso de substâncias.

TRATAMENTOS DISPONÍVEIS

Diferentes tipos de tratamento estão disponíveis, incluindo:

● Psicoterapia;

● Manuais de autoajuda;

● Farmacoterapia;

● Tratamento comportamental para perda de peso.

POR ONDE COMEÇAR?

A base do tratamento para o TCA preconizada pelas diretrizes mais consagradas envolve sempre abordagens psicoterápicas (psicoterapia). A psicoterapia mais utilizada e a mais estudada para o tratamento dos transtornos alimentares (TA), considerada de primeira linha, é a Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) que foi desenvolvida, especificamente, para pessoas com diagnóstico de TA (do inglês Cognitive Behaviour Therapy – enhanced [CBT-e]), e que é particularmente eficaz para o tratamento do TCA. Essa abordagem foca nas dificuldades nucleares desses quadros: relação com o corpo, relação com a comida e regulação do humor pelos sintomas alimentares.

O tratamento isolado com psicofármacos não é indicado como abordagem única no TCA e segue tendo um papel adjuvante ao tratamento psicoterápico. Embora haja variação de resposta, a eficácia do tratamento farmacológico para os sintomas nucleares tende a ser limitada. Estudos iniciais mostraram melhora dos sintomas de compulsão alimentar com antidepressivos do tipo inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), mas não resultaram em diminuição do peso. Nesse sentido, o topiramato se mostrou uma alternativa terapêutica mais interessante, com superioridade em relação ao placebo. Já a lisdexanfetamina é a única droga aprovada para o tratamento do TCA pelo FDA, fundamentada em 2 estudos que demonstraram superioridade ao placebo em melhora global, sintomas obsessivos, parada das compulsões e diminuição do peso.

É importante dizer que nenhum estudo comparou, diretamente, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina com topiramato ou lisdexanfetamina. Uma limitação dos dados disponíveis sobre medicamentos para o tratamento do TCA é que a maioria dos estudos teve duração de, no máximo, 12 semanas e, portanto, pouco se sabe sobre os efeitos de longo prazo na compulsão alimentar.

Estudos de revisão concluíram que a psicoterapia isolada é mais benéfica do que a farmacoterapia isolada no tratamento do TCA. Uma meta-análise que examinou seis ensaios randomizados de psicoterapia encontrou um grande efeito clínico da psicoterapia na redução da compulsão alimentar; enquanto a análise dos ensaios farmacoterapêuticos mostrou um efeito clínico de tamanho moderado. No entanto, ainda faltam estudos comparando os diferentes tratamentos.

Por fim, cabe salientar a importância de distinguir o tratamento do transtorno da compulsão alimentar (TCA) em si, do tratamento da obesidade em pacientes que apresentam ambas as condições. Geralmente, inicia-se o tratamento pelo TCA com o objetivo de controlar as compulsões e abordar as dificuldades da relação com a comida e o corpo; para, na sequência, tratar a obesidade.

Dessa forma, é possível afirmar que o tratamento padrão de primeira linha consiste em psicoterapia, sendo a terapia cognitivo comportamental (TCC) específica para TA a mais sugerida, por haver mais evidências que apoiam seu uso.

Texto escrito pela Dra Luciana Péres (@endocrinoluperes) em colaboração com a médica psiquiatra especialista em distúrbios alimentares, Dra Carolina Moser (@carolinammoserpsiquiatra).

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Dra Luciana Dornelles Sampaio Péres - Médica CRM 34995 Especialista em Clínica Médica - RQE 29636 Especialista em Endocrinologia - RQE 29637

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