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Restrição calórica associada a jejum intermitente é superior à restrição calórica tradicional?

As dietas com restrição calórica são a estratégia primária para a redução de peso em pacientes com obesidade. No entanto, a maioria dos estudos mostra apenas uma perda modesta de peso ao longo do tempo e a manutenção da perda ainda é desafiadora. A alimentação restrita a um período de tempo – uma forma de jejum intermitente – tem se mostrado promissora em estudos piloto, mas faltavam dados demonstrando sua eficácia e segurança no longo prazo.

Existem vários protocolos de jejum, porém a alimentação com restrição de tempo, chamada de jejum intermitente diário, é, talvez, o método de jejum mais fácil e popular. A alimentação fica restrita a um período do dia, digamos das 12h às 20h. O período de jejum é geralmente de 16 horas, incluindo o período de sono. Além deste, o jejum pode ser feito em dias alternados (alterna dia de jejum intermitente e dia sem restrição) e jejum de dia inteiro (dois dias de jejum não seguidos na semana).

Este estilo de alimentação apresenta baixo custo e é, aparentemente, sustentável. Restringir a janela de tempo para comer, sustenta o ritmo circadiano e melhora o metabolismo ao prolongar o jejum diário, que, por sua vez, ativa as vias celulares que estão implicadas na mediação dos benefícios da restrição calórica.

Experimentos em camundongos mostraram que comer com restrição de tempo pode reduzir a adiposidade e melhorar o metabolismo com ou sem perda de peso. Em um estudo, camundongos que foram alimentados com uma dieta restrita em calorias consumida dentro de um período de 6 horas mostrou que aqueles que foram alimentados com a mesma dieta à noite perderam mais peso do que aqueles alimentados durante o dia, o que sugere que o momento do consumo de alimentos é importante. Lembrando que camundongos são animais noturnos, então, biologicamente o período noturno é período que eles naturalmente se alimentam!

E em humanos? Será que o jejum intermitente é superior a restrição calórica tradicional?

Liu et al. realizaram um estudo randomizado e controlado para avaliar a perda de peso em 139 pacientes com obesidade acompanhados por 12 meses comparando a restrição calórica isolada com restrição calórica associada a restrição de tempo de alimentação (janela de alimentação restrita das 8h as 16h). O percentual de perda de peso durante o período foi de 9,0% (8,0 kg) no grupo de restrição de tempo + restrição calórica e 7,2% (6,3 kg) no grupo de restrição calórica isolada. Embora o resultado tenha sido diferente, essa diferença não foi estatisticamente significativa (diferença entre os grupos, -1.8kg; P=0,11). A circunferência da cintura, o índice de massa corporal, a gordura corporal, a pressão arterial e os níveis de biomarcadores diminuíram significativamente durante o período experimental, sem diferenças substanciais entre os grupos.

 

Os resultados do estudo sugerem que a restrição calórica combinada com restrição de tempo, quando realizada com treinamento e monitoramento intensivos, é uma abordagem tão segura, sustentável e eficaz para perda de peso quanto a restrição calórica sozinha.

É importante ressaltar que estudos que compararam a restrição calórica isolada com restrição de tempo de alimentação SEM restrição calórica mostraram que a restrição calórica resulta em maior perda de peso (aproximadamente 9%) do que a das dietas que apenas restringem o tempo (2 a 4%).

Conclusão

Jejum intermitente é superior a uma dieta tradicional hipocalórica?
A resposta é NÃO! Nem quando se avalia somente o efeito do jejum, nem quando se adiciona a restrição calórica com a restrição do tempo de alimentação.

O que emagrece no jejum, é o que você come quando não está em jejum. O jejum intermitente só tem efeito positivo quando a pessoa o utiliza como forma de ingerir menos calorias.

O jejum intermitente pode ser uma boa estratégia para aquelas pessoas que, naturalmente já omitem uma refeição ao dia, mas pode não ser boa para pessoas que estão habituadas a comer em todos os turnos, tanto que, em um estudo que comparou as duas dietas, a taxa de abandono do estudo foi maior naqueles que pertenceram ao grupo do jejum intermitente.

Devo tentar o jejum intermitente?

Primeiramente, o jejum só deve ser tentado em pessoas que possam tolerar, com segurança, os intervalos de jejum. Por último, mas não menos importante, não esqueçam: a dieta mais eficaz é aquela que você consegue seguir enquanto vive da melhor maneira possível!

Referência: Calorie Restriction with or without Time-Restricted Eating
in Weight Loss. N Engl J Med 2022; 386:1495-1504

 

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