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Reações adversas dos análogos de GLP-1 - o que é verdade e o que é boato?

Todo medicamento apresenta efeitos colaterais, mas é preciso entender que, nem sempre, uma reação adversa é ruim!

Como assim?
Os análogos de GLP-1 - como a Liraglutida (Victoza, Saxenda) e a Semaglutida (Ozempic e, em breve, Wegovy) – foram originalmente criados para o tratamento do Diabetes tipo 2 (DM2) e a perda de peso foi um efeito colateral! A partir daí, foram realizados estudos em pacientes que estavam acima do peso e que não tinham diagnóstico de DM2 e comprovado que eles eram eficazes também nessa população.

Esses medicamentos são aprovados para tratar DM2 e as pessoas estão usando erroneamente para tratar sobrepeso e obesidade?
NÃO!
A Liraglutida (Saxenda) já é aprovada pela Anvisa e comercializada para tratamento de sobrepeso e obesidade.
A Semaglutida (Wegovy) já foi aprovada pela Anvisa, mas ainda não é comercializada, pois não chegou no Brasil. Desta forma, para utilizar a Semaglutida com a finalidade de tratar sobrepeso e obesidade, é necessário prescrever o medicamento com nome comercial de Ozempic.
O lançamento do Wegovy no Brasil vai ocorrer em 2024.

Esses medicamentos contêm insulina na formulação?
NÃO!
A Liraglutida e a Semaglutida pertencem a uma classe de medicamentos chamada de “agonista do receptor do GLP-1”.
Mas o que é o GLP-1?
O GLP-1 é um hormônio produzido pelo nosso intestino que promove a redução do apetite, retardo do esvaziamento do estômago, aumentando a sensação de saciedade e, ainda, regula a glicose do sangue, e, por isso, seu uso é aprovado tanto para o tratamento de obesidade quanto de DM2.

Ozempic promove flacidez facial (a tal ozempic face)?
NÃO!
Qualquer perda importante de peso pode levar a perda de gordura facial, seja ela promovida apenas pela aderência a uma dieta super restritiva, uso de medicamentos ou cirurgia bariátrica.

O que pensar sobre os casos de pensamentos suicidas e automutilação em pacientes em uso de Ozempic relatados na Islândia?
NADA!
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) está investigando esses casos para entender se o que ocorreu se trata de um efeito colateral extremamente raro, ou se foi um evento “ao acaso”, ou seja, um evento que não tem relação direta com o medicamento.

E a história da publicitária que foi internada por insuficiência hepática após uso de Ozempic sem acompanhamento médico?
Insuficiência hepática aguda (IHA) não é um dos efeitos adversos esperados com o uso do Ozempic. Duas coisas podem ter ocorrido neste caso:
A minha primeira hipótese é que a IHA tenha sido causada por outro agente. Embora muitos não saibam, overdose de acetaminofeno (conhecido paracetamol) é uma das causas mais comuns. Além disso, não é incomum que não se encontre causa nenhuma e, ainda, existem casos atribuídos à extrato de erva verde.
A minha segunda hipótese, também, é uma causa bem conhecida de IHA e ela se chama: reação idiossincrática. Ao contrário da IHA por acetaminofeno, que é dependente do uso de doses altas e tóxicas, a IHA por reação idiossincrática é DOSE INDEPENDENTE! As reações medicamentosas idiossincráticas podem ser definidas como efeitos adversos que não podem ser explicados pelos mecanismos de ação conhecidos do fármaco. Essa reação ocorre de forma imprevisível apenas em indivíduos suscetíveis. O que acontece é uma hipersensibilidade, não imunológica, a uma substância, caracterizada por ser independente da dose tóxica dessa mesma substância. Essas reações tendem a ser mais graves, mas ocorrem, tipicamente, em um número muito pequeno de pessoas. As pessoas afetadas podem apresentar diferenças genéticas na forma como seu corpo metaboliza medicamentos ou responde a eles.

O Ozempic faz efeito sozinho?
NÃO!
O paciente que faz uso do medicamento necessita fazer restrição calórica e atividade física concomitantemente.

Quais os efeitos colaterais mais comuns desse grupo de medicamentos?
Náuseas, vômitos, constipação, diarreia.

Essas drogas podem causar hipoglicemia?
Podem, porém é um efeito colateral raro.
É mais provável que ocorra no paciente com DM2, que faz uso de outros medicamentos capazes de baixar a glicose em associação com os análogos de GLP-1.

Essas drogas podem causar diabetes?
NÃO!
Bem pelo contrário, essas drogas ajudam a prevenir a doença, visto que o peso em excesso é um dos principais fatores de risco para o DM2.

Essas drogas podem causar pancreatite aguda?
Existem relatos em estudos, mas é bastante raro.

Essas drogas podem causar câncer de tireoide?
Em estudos pré-clínicos (estudos em animais), os análogos de GLP-1 aumentaram o risco de câncer medular de tireoide (CMT). Por isso, na bula, uma das contraindicações é usar em pacientes com história pessoal de CMT ou com história familiar de Neoplasia Endócrina Múltipla.

Mas o que mostram os estudos em humanos?
Em estudos do tipo caso controle, mostra-se um aumento de risco. Ocorre que, estudos de caso controle só servem para levantar hipótese, eles não provam causalidade, pois existem muitos fatores confundidores e, um deles, é a própria obesidade que, por si só, aumenta o risco de câncer.

Essas drogas podem ser promissoras em outras áreas?
Sim, elas mostram benefício em reduzir a gordura no fígado e estão sendo estudadas para combater o alcoolismo e Alzheimer.

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