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Posso engravidar usando semaglutida (Ozempic)?

As últimas notícias nos jornais deixaram as pacientes usuárias de Ozempic em pânico.

Mas fique calma!

Vou te explicar o que dizem os estudos.

Vamos começar imaginando três cenários.

Cenário 1: Paciente em uso de Ozempic e sem nenhum método contraceptivo.
Sabemos que a obesidade e algumas doenças associadas a ela, como a Síndrome dos Ovários Policísticos, podem levar à ovulação e consequentemente à infertilidade. Com a perda de peso proporcionada pela medicação associada à dieta, estas pacientes podem sim, voltar a ovular e acabar engravidando.

Cenário 2: Paciente em uso de Ozempic e em uso de algum método contraceptivo por uma via não oral (ex: anel vaginal, adesivo, DIU).

Fique tranquila, não existe nenhuma interferência entre esses métodos e o uso de análogos de GLP-1.

Cenário 3: Paciente em uso de Ozempic e em uso de algum método contraceptivo por via oral.

Aqui temos algumas considerações:

3.1. A farmacêutica Novo Nordisk (que é quem produz o Ozempic) realizou estudos de farmacologia clínica para investigar se alguns medicamentos administrados por via oral teriam sua absorção prejudicada quando em uso de Ozempic. Um dos medicamentos testados foi o contraceptivo oral combinado de etilnilestradiol e levonorgestrel; neste estudo, não foi observada redução de sua absorção.

3.2. Um estudo de revisão foi realizado com o objetivo de examinar dados de ensaios sobre diferenças no impacto da tirzepatida e dos agonistas do GLP-1 (semaglutida, liraglutida, dulaglutida e exenatida) nos contraceptivos hormonais orais e fornecer uma análise de dados de segurança. Um total de 6 ensaios clínicos foram selecionados para inclusão na revisão da literatura.Dos 6 artigos incluídos:

Um estudo investigou o uso de tirzepatida e mostrou uma redução estatisticamente significativa da absorção dos contraceptivos orais!
A Tirzepatida é um duplo agonista (GLP-1 + GIP), cujo mecanismo de ação leva a um maior efeito no esvaziamento gástrico do que os agonistas típicos do GLP-1, e talvez por isso, essa alteração tenha sido documentada.
Lembrando aqui que este medicamento ainda não está disponível no Brasil, mas o lançamento está previsto para este ano.

Os outros 5 estudos envolveram o uso de diversos agonistas do GLP-1 e NÃO mostraram diferença estatística ou clinicamente significativa na absorção dos contraceptivos hormonais orais em pacientes em uso dos agonistas.

3.3. Cuidado com os efeitos colaterais dos análogos se você utiliza a pílula por via oral.

Um dos efeitos colaterais mais comuns dos análogos é vômito e diarreia. Se você tomar a pílula e até 4h após apresentar um episódio de vômito ou diarreia, você pode sim, reduzir a eficácia da sua pílula. Neste caso, o mais indicado é que se tome novamente o comprimido do anticoncepcional.

3.4. Taxa de falha dos métodos contraceptivos existe!

A taxa de falha do anticoncepcional oral é de 0,1%, no primeiro ano de uso. Em uso habitual, essa taxa atinge valores de 6 a 8%!
O que podemos fazer para reduzir essa taxa?
Usar o método corretamente, no caso da pílula, lembrar de tomá-la todos os dias, de preferência NO MESMO HORÁRIO.

3.5. A pílula hormonal combinada NÃO é o melhor método contraceptivo para DIVERSAS mulheres com obesidade.
Aproveite e assista o nosso episódio do podcast sobre contracepção na obesidade e entenda mais sobre esse tema. Clique para assistir.

Referências:
1. Ozempic® Prescribing Information. Plainsboro, NJ: Novo Nordisk Inc.
2. The impact of tirzepatide and glucagon-like peptide 1 receptor agonists on oral hormonal contraception.

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