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Por que é importante controlar a obesidade antes de gestar?

Contextualizando o problema

A obesidade é o problema mais comum em obstetrícia e afeta tanto a mãe quanto seu filho. Estima-se que 1/4 das complicações da gravidez sejam atribuídas a ela. 
As mulheres grávidas com obesidade correm maior risco de uma série de complicações, e os riscos são amplificados com o aumento da gravidade da condição, ou seja, quanto maior o grau da obesidade, maior o risco. Pacientes com obesidade pré-gestacional seguida de alto ganho de peso durante a gestação são as que têm os maiores riscos de complicações. Além disso, a obesidade materna pode afetar os resultados da prole também a longo prazo, como resultado de alterações epigenéticas induzidas pela exposição fetal a níveis elevados de glicose, insulina e citocinas inflamatórias durante o desenvolvimento do feto.

Qual a explicação para o aumento de risco?
O tecido adiposo é um órgão endócrino ativo. Quando presente em excesso, pode ter efeitos desreguladores nas vias metabólicas, vasculares e inflamatórias e, assim, afetar os resultados obstétricos.

Como eu sei se estou acima do peso?
Como não existe uma definição padrão de obesidade específica para a gravidez, as pacientes grávidas são consideradas como portadoras de obesidade ou não com base em seu índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional.
Obs: para calcular seu IMC pré-gestacional, basta dividir seu peso de antes da gestação pela sua altura ao quadrado.

 

 COMPLICAÇÕES:

1. Complicações anteparto

Perda precoce da gravidez:
A obesidade parece aumentar o risco de aborto precoce espontâneo na gravidez e dobrar os riscos de aborto recorrente.

Diabetes
Diabetes tipo 2 (DM2) oculto: a obesidade é o principal fator de risco para o desenvolvimento de DM2. Muitas mulheres desconhecem o diagnóstico e acabam descobrindo nos exames de rotina do primeiro trimestre.
Diabetes gestacional (DMG): O risco aumentado de DMG está relacionado ao aumento da resistência à insulina.

Hipertensão associada à gravidez :
O IMC materno é um fator de risco independente para pré-eclâmpsia e hipertensão gestacional.

Parto pré-termo com indicação médica:
A obesidade aumenta o risco de parto pré-termo por indicação médica, principalmente devido a distúrbios maternos relacionados à obesidade, como hipertensão, pré-eclâmpsia e diabetes.

Apneia obstrutiva do sono:
A prevalência da apneia obstrutiva do sono (AOS) aumenta progressivamente à medida que o IMC aumenta. A AOS pode ser precipitada ou exacerbada durante a gravidez e pode aumentar o risco de pré-eclâmpsia e DMG.

Detecção de anomalias congênitas:
A incidência de anomalias congênitas aumenta em fetos de grávidas com obesidade. No entanto, as anomalias são mais difíceis de detectar com a ultrassonografia na mulher com obesidade, resultando em menos diagnósticos pré-natais.

2. Complicações intraparto

Progresso do trabalho de parto:
A obesidade materna parece influenciar no tempo de dilatação das pacientes, sendo que as pacientes com maior IMC demoram mais tempo para obter a dilatação completa.

Questões relacionadas a indução:
Grávidas com obesidade correm maior risco de necessitarem induzir o trabalho de parto devido ao risco aumentado de complicações na gravidez que requerem a antecipação do parto. Elas também correm maior risco de sofrer com induções mais longas, falha de indução e cesariana por falha de indução.

3. Complicações pós-parto

Tromboembolismo venoso
Obesidade, gravidez, puepério e cesariana são fatores de risco independentes para tromboembolismo venoso, que é uma das principais causas de morbidade e mortalidade materna.

Infecção:
Grávidas com obesidade correm maior risco de infecção pós-parto (por exemplo, infecção de ferida operatória e endometrite), independentemente do tipo de parto e apesar uso de antibióticos profiláticos.

Depressão pós-parto:
Uma meta-análise sobre obesidade e transtornos mentais durante a gravidez e pós-parto observou um risco aumentado para depressão pós-parto em mulheres com obesidade.

4. Complicações no recém-nascido

Anomalias congênitas:
Como já mencionado anteriormente, as mulheres com obesidade estão em risco aumentado de ter um feto com anomalias congênitas, incluindo defeitos do tubo neural, malformações cardíacas, defeitos orofaciais e anormalidades de redução membros.

Mortalidade perinatal:
Os riscos de morte fetal, neonatal e infantil são todos aumentados no cenário de obesidade materna.

Nascimento prematuro:
Filhos de mulheres grávidas com obesidade são mais propensos a nascer prematuros, o que os expõe às sequelas de curto e longo prazo da prematuridade.

Recém-nascido grande para a idade gestacional (GIG):
Obesidade pré-gestacional e ganho de peso excessivo na gestação influenciam no peso ao nascer do recém-nascido. Como resultado, as mulheres com obesidade tem maior risco de ter um recém-nascido GIG. Existem duas sequelas potenciais disso:
● Maior risco de distócia de ombro, que é uma maior dificuldade em passar o ombro da criança após a passagem da cabeça no canal de parto;
● Maior predisposição à obesidade no futuro:
Ter um dos pais com a obesidade aumenta o risco de obesidade em duas a três vezes; ter os dois pais com a obesidade aumenta o risco em até 15 vezes. Isso também aumenta o risco de doenças infantis e adultas relacionadas ao excesso de peso, como hipertensão, DM2, resistência à insulina, dislipidemia, doença arterial coronariana, e doença hepática gordurosa não alcoólica. No entanto, o estilo de vida compartilhado também desempenha um papel no desenvolvimento desses distúrbios.

Asma:
Uma meta-análise de estudos observacionais identificou a associação entre obesidade materna na gravidez e risco de asma na prole.

Conclusão

Controlar o peso ANTES de engravidar é muito importante para prevenir as diversas complicações relacionadas à obesidade.

Este texto foi escrito pela endocrinologista Dra Luciana Péres (@endocrinoluperes) em colaboração com a obstetra Dra Rebeca Miotto (@drarebecamiotto).

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