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Ômega 3 e saúde cardiovascular. O que dizem as evidências científicas?

O que é o Ômega - 3?

Os ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs) exercem inúmeros benefícios à saúde. Os mais conhecidos são o ômega 3 (n-3) e ômega-6 (n-6). Os três principais n-3 da dieta são o ácido eicosapentaenóico (EPA), o ácido docosahexaenóico (DHA) e o ácido alfa-linolênico (ALA).
EPA e DHA são PUFAs n-3 presentes em peixes, mariscos e, em quantidades muito menores, em alguns outros alimentos de origem animal. Eles são os principais componentes dos suplementos de óleo de peixe.
ALA é um PUFA n-3 presente em certas plantas e seus óleos, como linhaça e nozes.

Diferentes formulações disponíveis

Diferentes formulações de óleo de peixe contêm quantidades variáveis de EPA e DHA (entre 20 - 40 % do total de EPA+DHA para a maioria das formulações de suplementos), com o restante, normalmente, composto por outros ácidos graxos ômega-3, gorduras monoinsaturadas, gorduras saturadas e gelatina ou glicerina. Assim, uma cápsula de suplemento de 1g, normalmente, contém entre 200 e 400 mg de EPA e DHA.
É importante ressaltar que a presença de outros ácidos graxos e gorduras nestas cápsulas, comercialmente disponíveis, pode reduzir o benefício potencial da suplementação de EPA e DHA. Em alguns casos, os níveis de colesterol LDL podem se elevar com o uso destes suplementos, o que teria potencial de aumentar o risco cardiovascular. Em doses de 2-4g/dia não se costuma observar estes efeitos, mas o controle laboratorial deve ser feito para avaliar o efeito individual da suplementação.

Efeitos fisiológicos

Em contraste com muitos outros suplementos dietéticos que têm poucos efeitos fisiológicos observados, meta-análises de ensaios clínicos mostraram que os ácidos graxos n-3 marinhos (dietéticos ou suplementares) reduzem risco cardiovascular (1). Contudo, deve-se ressaltar que muitos dos ensaios clínicos não demonstraram benefício e, quando avaliados em meta-análise, os efeitos foram modestos e dependentes da dose.

Quando seu uso seria bem justificado?

A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA considera seu uso off-label em pacientes selecionados com hipertrigliceridemia leve, pois ajuda a reduzir os níveis de triglicerídeos em 25-30% quando em doses de 2-4g/dia.
Importante destacar que, antes de se iniciar qualquer terapia visando reduzir os níveis de triglicerídeos, deve-se avaliar ajustes na dieta e pesquisar causas secundárias para essa elevação.

E os pacientes sem hipertrigliceridemia?

Para pacientes sem hipertrigliceridemia, o papel desse tratamento é incerto e a prática varia.
Em um estudo randomizado na prevenção primária com 25.871 adultos sem doença cardiovascular conhecida (VITAL), após uma média de 5,3 anos, uma dose baixa de ácido graxo n-3 (PUFA; 1 g/dia) não reduziu o desfecho primário de eventos cardiovasculares, que incluíam doença cardíaca e acidente vascular cerebral. Entre os desfechos secundários, houve uma redução no número de Infartos Agudos do Miocárdio (IM), intervenções percutâneas, doença coronariana e morte por IM.(2)

E os efeitos sobre a pressão arterial?
Em uma meta-análise de 70 estudos randomizados conduzidos entre adultos, a suplementação de EPA e DHA reduziu a PA sistólica em 1,52 mmHg e a PA diastólica em 0,99 mmHg. Bem pouco não é mesmo?
Os maiores efeitos foram observados naqueles com hipertensão não tratada, com reduções da PA sistólica e diastólica de 4,51 e 3,05 mmHg, respectivamente (3). Esta evidência, contudo, não é suficiente para recomendar o uso destes suplementos com esta finalidade.

Quantidade de consumo e tempo

De um modo geral, os efeitos fisiológicos do óleo de peixe ocorrem dentro de semanas a meses de consumo habitual.
Com ingestão dietética típica (Com suplementos de baixa dosagem (aproximadamente 1 g/dia), não há evidência clara de redução de desfechos cardiovasculares.
Por outro lado, com suplementos de alta dose (>2 a 3 g/dia), efeitos fisiológicos adicionais, como redução de triglicerídeos, tornam-se mais significativos e podem levar a reduções modestas no total de eventos cardiovasculares ao longo de meses a anos (4).

 

Mozaffarian D, Wu JH. Omega-3 fatty acids and cardiovascular disease: effects on risk factors, molecular pathways, and clinical events. J Am Coll Cardiol 2011; 58:2047.
Marine n-3 Fatty Acids and Prevention of Cardiovascular Disease and Cancer.. Manson JE, Cook NR, Lee IM, Christen W, Bassuk SS, Mora S, Gibson H, Albert CM, Gordon D, Copeland T, D'Agostino D, Friedenberg G, Ridge C, Bubes V, Giovannucci EL, Willett WC, Buring JE, VITAL Research Group. N Engl J Med. 2019;380(1):23. Epub 2018 Nov 10.
3. Miller PE, Van Elswyk M, Alexander DD. Long-chain omega-3 fatty acids eicosapentaenoic acid and docosahexaenoic acid and blood pressure: a meta-analysis of randomized controlled trials. Am J Hypertens 2014; 27:885.
4. Omega-3 dietary supplements and the risk of cardiovascular events: a systematic review.Marik PE, Varon J . Clin Cardiol. 2009;32(7):365.

Texto escrito pela Dra Luciana Péres (@endocrinoluperes) em conjunto com o cardiologista Dr. Eduardo Dytz (@edudytz), médico do Hospital Moinhos de Vento e Instituto de Cardiologia de Porto Alegre.

 

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