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O papel da atividade física nos cânceres relacionados à obesidade

Certas doenças, como a obesidade, aumentam a probabilidade de ocorrência de câncer. A obesidade tem sido associada com o aumento das taxas de, pelo menos, 13 tipos de câncer. Explorar estratégias de prevenção do câncer e prevenção de sua recorrência pode ajudar a reduzir a taxa de mortalidade por câncer no mundo.

A atividade física – importante no manejo da obesidade – é uma dessas estratégias. Ao interferir em alguns dos fatores de risco para o câncer, incluindo a quantidade de gordura corporal, os níveis de hormônios sexuais, a sensibilidade à insulina, o equilíbrio entre citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias e a resposta imune, o exercício regular pode trazer benefícios tanto na incidência, quanto na sobrevida do câncer. Há ampla evidência de que o exercício regular está associado a um menor risco de desenvolver uma vários tipos de câncer e, em alguns casos, também a um melhor prognóstico de câncer e taxas de mortalidade.

Quais são os mecanismos biológicos pelos quais a atividade física afeta o câncer?

1. Redução da resistência à insulina

Em um estado de resistência à insulina, a captação de glicose nos tecidos sensíveis à insulina (predominantemente o músculo esquelético) é diminuída. O corpo, portanto, requer uma quantidade maior do que o normal de insulina para manter a concentração de glicose estável e evitar a hiperglicemia (aumento da glicose no sangue). Isso é alcançado pela secreção compensatória de insulina pelo pâncreas, levando a vários graus de hiperinsulinemia.

A insulina, além de suas múltiplas funções metabólicas, também é um hormônio de crescimento. O resultado é um aumento na proliferação celular e uma inibição da apoptose celular (morte celular programada) – ambas características biológicas do câncer. Indivíduos com obesidade, geralmente apresentam resistência à insulina e hiperinsulinemia.

A atividade física pode ajudar a atenuar a resistência à insulina, reduzindo a hiperinsulinemia e, possivelmente, também o aumento resultante no risco de câncer. Além disso, quando há aumento da massa magra induzida pelo exercício, ocorre o aumento da captação de glicose no corpo e diminuição das concentrações plasmáticas de glicose, o que, por sua vez, pode diminuir a necessidade de mais insulina.
Ademais, o déficit de energia induzidos pelo exercício em indivíduos com obesidade pode levar à perda de peso corporal - embora apenas em quantidades modestas na ausência de restrição calórica concomitante - o que, por si só, pode ter efeitos benéficos na sensibilidade à insulina e hiperinsulinemia.

Além dessas mudanças, os efeitos mediados pelo exercício no sistema do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF) podem estar ligados às reduções observadas na incidência de câncer bem como melhorias nos resultados e sobrevida relacionados ao câncer. O eixo IGF é fundamental na regulação da proliferação celular, diferenciação e apoptose.

2. Alterações de hormônios esteróides sexuais

Os hormônios sexuais femininos têm um efeito mitótico, promovendo a proliferação celular, inibindo a apoptose e aumentando o dano ao DNA. Consequentemente, níveis elevados de estrógenos - e também de andrógenos - em mulheres estão associados a um risco aumentado de câncer de mama e de endométrio.

A obesidade está associada ao excesso de andrógenos, aumento da quantidade de tecido adiposo e hiperinsulinemia – que regula positivamente a atividade da aromatase, ou seja, a enzima que converte os andrógenos em estrógenos – resultando em risco aumentado desses tipos de câncer.
O exercício regular tem sido associado a reduções modestas nos níveis hormonais de mulheres e com aumentos na globulina de ligação de hormônios sexuais (SHBG), que se liga e reduz, ainda mais, a biodisponibilidade dos hormônios sexuais endógenos.

3. Resolução da inflamação corporal

A inflamação tem sido associada a uma cascata de eventos envolvidos no desenvolvimento e progressão do câncer. Níveis elevados de marcadores inflamatórios – como, por exemplo, a proteína C reativa (PCR) - estão fortemente associados a diagnósticos de câncer.

Essas citocinas pró-inflamatórias também estão elevadas em indivíduos com excesso de gordura corporal e podem contribuir para a evolução de cânceres relacionados à obesidade.

O exercício, em conjunto com a perda de peso induzida por dieta, reduz os níveis de citocinas pró-inflamatórias, embora os mecanismos ainda não sejam totalmente compreendidos.

4. Melhora da função imunológica

A disfunção imunológica sistêmica é outra característica do câncer, resultando em aumento do risco de câncer e aumento do risco de infecção naqueles pacientes diagnosticados com câncer .

A obesidade também está associada ao comprometimento da função imunológica. A inflamação de baixo grau, não apenas prejudica a função imunológica, como o excesso de gordura corporal está associado à redução da resposta de anticorpos após a vacinação.

O exercício tem efeitos imunomoduladores que podem alterar várias fases críticas da comunicação entre sistema imunológico e tumor, tanto na iniciação quanto na progressão do tumor.

5. Secreção de miocinas com efeitos pleiotrópicos

O músculo esquelético é, entre outras coisas, um órgão endócrino que produz e secreta uma variedade de proteínas e peptídeos – chamados de miocinas. As miocinas permitem não apenas a comunicação dentro do próprio músculo, mas também a interação entre o músculo e outros órgãos.

Consequentemente, acredita-se que eles medem, pelo menos em parte, muitas das adaptações fisiológicas ao treinamento físico regular e seus efeitos benéficos em uma variedade de doenças crônicas, incluindo o câncer.

Conclusões

Existe uma riqueza de dados observacionais que apoiam uma ligação entre altos níveis de atividade física regular e menor incidência e/ou recorrência de vários tipos de câncer. É inteiramente possível que múltiplos fatores induzidos pelo exercício contribuam para esses resultados benéficos, e a importância relativa de cada um varia, dependendo das características do regime de exercícios, das características do indivíduo e do tipo de câncer em questão. Ademais, ainda não temos uma compreensão clara de como diferentes modalidades de exercícios (por exemplo, exercícios aeróbicos ou de resistência) e quantidades (por exemplo, duração e intensidade) interagem para melhorar os resultados da doença. Embora uma compreensão mais profunda seja necessária e deva ser objeto de investigação futura, o conhecimento dos mecanismos e dos parâmetros ideais do exercício, claramente, não é um pré-requisito para promover um estilo de vida fisicamente mais ativo entre os pacientes com risco de câncer e entre os sobreviventes do câncer. Exercite-se!

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