Blog

Veja nossas postagens

Novos medicamentos antidiabéticos na Síndrome dos Ovários Policísticos

Em textos anteriores, já falamos sobre Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) e seu tratamento. Para ler os outros textos clique abaixo

https://www.endocrinoluperes.com.br/tratamento-da-sindrome-dos-ovarios-policisticos

https://www.endocrinoluperes.com.br/o-que-e-a-sindrome-dos-ovarios-policisticos

Hoje vamos falar sobre um estudo que revisou o uso das medicações antidiabéticas na SOP.

A obesidade e a resistência à insulina são os principais contribuintes para complicações em pacientes com SOP. Além disso, essas pacientes estão sob risco de desenvolver outros distúrbios metabólicos (como Diabetes tipo 2 e Síndrome Metabólica), doenças cardiovasculares, Doença Hepática Gordurosa não alcoólica (DHGNA), depressão e câncer de endométrio. Assim, justifica-se a necessidade de novos tratamentos com ampla cobertura para essas complicações.

Inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2i), agonistas do receptor do GLP-1 e análogos de incretinas são novos medicamentos aprovados para o tratamento do Diabetes tipo 2 (DM2) e, devido ao seu benefício registrado na perda de peso, melhora da resistência à insulina e benefícios cardiovasculares, eles podem ajudar as mulheres com SOP a lidar com as consequências metabólicas, reprodutivas e psicológicas da síndrome.

Existe literatura limitada sobre a segurança e eficácia desses novos medicamentos antidiabéticos em pacientes com SOP. Desta forma, esta revisão está investigando o papel e a eficácia das novas medicações antidiabéticas como uma opção terapêutica precoce na SOP.

Metformina

A metformina age aumentando a sensibilidade insulínica no fígado, reduzindo a produção hepática de glicose e aumentando a captação muscular de glicose.
A metformina tem sido utilizada desde 1994 e demonstra reduzir, efetivamente, as complicações da SOP.
Vários estudos mostraram que a metformina não apenas pode ajudar a reduzir o peso das pacientes com SOP, mas também pode melhorar as funções endócrinas e ovarianas.
Um estudo de Hickey et al. descobriu que, em mulheres com sobrepeso, a metformina pode ter um efeito regulador sobre os hormônios sexuais, estimular a secreção do hormônio luteinizante (LH), restaurar a ovulação e melhorar o ciclo menstrual das pacientes.
Outro estudo de Haederi et al. relata como a metformina é significativa na melhora da função endotelial dessas pacientes.

Inibidores da SGLT-2 (SGLT2i)

Os SGLT2i são uma classe de medicamentos para DM2 que reduzem a glicose no sangue através do aumento da excreção de glicose pela urina.

A inibição dos receptores SGLT pode melhorar o estado metabólico em certas pacientes com SOP.

Um ensaio clínico randomizado comparou os efeitos da empagliflozina versus metformina em diversos parâmetros de pacientes com SOP e, após 12 semanas de tratamento, eles notaram uma melhora dos parâmetros antropométricos e da composição corporal das usuárias de empagliflozina em relação à metformina. No entanto, não foram observadas alterações significativas nos parâmetros hormonais ou metabólicos.

Outros autores conduziram um estudo de não inferioridade para determinar a eficácia de canagliflozina versus metformina em mulheres com SOP. Eles notaram que a canagliflozina não era inferior à metformina na melhora dos padrões menstruais, redução do peso corporal e da massa gorda total.

Recentemente, Sinha et al. realizou uma meta-análise dos quatro estudos randomizados e relatou que o SGLT2i ofereceram melhorias significativas na redução no peso corporal, glicose em jejum, resistência à insulina e níveis de sulfato de dehidroepiandrosterona (DHEAS). No entanto, nenhuma diferença significativa foi observada para índice de androgênios livres, testosterona total e SHBG.

Análogos do GLP-1 (GLP-1RAs)

O GLP-1 é um hormônio produzido pelo nosso intestino que promove a redução do apetite, retardo do esvaziamento do estômago, aumento da sensação de saciedade, aumento da secreção de insulina dependente de glicose e redução da secreção de glucagon. Por isso, seu uso é aprovado tanto para o tratamento de obesidade quanto de diabetes.

Vários ensaios randomizados foram conduzidos para determinar a eficácia dos GLP-1RAs na perda de peso em pacientes com SOP e obesidade/sobrepeso como resultado primário. Uma perda de peso significativa foi notada, variando de 4,2% a 6,2% do peso corporal.

Em um estudo randomizado de 12 semanas em mulheres obesas com SOP, a liraglutida mostrou-se superior à metformina, e melhorou a composição corporal, incluindo uma diminuição substancial da área de tecido adiposo visceral (VAT).

Outro ensaio clínico randomizado avaliou o efeito da liraglutida na gordura ectópica em mulheres com obesidade/sobrepeso e SOP e demonstrou que, em comparação com o placebo, o tratamento com liraglutida reduziu o peso corporal em 5,2 kg (5,6%), o VAT em 18%, o teor de gordura hepática em 44% e reduziu em dois terços a prevalência de DHGNA.

Recentemente, uma meta-análise avaliou a eficácia de GLP-1 versus metformina para pacientes com SOP. Ao analisar oito estudos, os análogos do GLP-1 foram mais eficazes do que a metformina em melhorar a sensibilidade à insulina, reduzindo o IMC e a circunferência abdominal.

Vários estudos também avaliaram a eficácia dos GLP-1RAs na redução do risco de resultados cardiovasculares adversos, avaliando biomarcadores de risco cardiovascular.

Os efeitos de GLP1-RAs na reprodução também foram avaliados em alguns estudos. Um estudo randomizado foi realizado em 28 mulheres inférteis com SOP e obesidade para avaliar o efeito da liraglutida na pré-concepção de curto prazo e na possibilidade de fertilidade. A taxa de gravidez por transferência de embriões foi significativamente maior quando a metformina foi combinada com liraglutida em baixa dose do que quando a metformina foi utilizada isoladamente.

Inibidores da DPP-4

Os inibidores da DPP-4 são considerados uma classe de medicamentos antidiabéticos administrados por via oral que melhoram o controle glicêmico por promover aumento dos níveis fisiológicos endógenos de peptídeo inibidor gástrico (GIP) e peptídeo semelhante a glucagon 1 (GLP-1), com aumento de síntese e secreção de insulina, além de redução do glucagon.

As incretinas, principalmente GLP-1RAs, podem melhorar os distúrbios metabólicos da SOP e adicionar benefícios cardiovasculares.
Um estudo testou o efeito da sitagliptina nos níveis de glicose no sangue e VAT em mulheres com SOP e demonstrou uma redução na resposta máxima de glicose ao teste de tolerância à glicose oral e uma redução do VAT.
Outro estudo realizado por Ferjan et al. examinou a sitagliptina como uma opção potencial de tratamento em pacientes com SOP intolerantes à metformina e demonstraram que a sitagliptina melhorou a função das células β pancreáticas e a sensibilidade à insulina.

Conclusão
Como nenhuma intervenção isolada pode, potencialmente, tratar todo o espectro de distúrbios metabólicos na SOP, a intervenção no estilo de vida (dieta e exercícios) combinada com metformina, agonistas do GLP-1, SGLT-2i e cirurgia bariátrica sozinhos ou em combinação pode ter melhores resultados e devem ser considerados.

Referência: Novel Antidiabetic Medications in Polycystic Ovary Syndrome. DISCOVERIES 2022, Jan-Mar, 10(1): e145.

 

Receba novidades

WhatsApp