Medicação para obesidade causa “efeito rebote”?
A pergunta deste post é, sem dúvida, um dos mitos mais frequentes do tratamento da obesidade.
O que se chama de “efeito rebote” nada mais é do que a recuperação do peso que ocorre após a suspensão da medicação para tratamento da obesidade.
Por que o conceito de “efeito rebote” na obesidade está equivocado?
A obesidade é uma doença crônica, isso é, não tem cura, além de ser uma doença de difícil tratamento e que se caracteriza por ter alta taxa de recidiva. Há estudos que demonstram que somente 11% dos pacientes que emagrecem conseguem manter a perda a longo prazo.
E por que isso acontece?
O nosso organismo está sempre querendo nos defender da perda de peso. Então, toda vez que perdemos peso, a resposta do nosso corpo é aumentar nosso apetite e reduzir nosso gasto energético. Então aqui você entende que é o nosso organismo, e não a ausência do remédio, que predispõe à recuperação do peso.
As medicações prescritas, em geral, auxiliam no controle sobre a ingestão alimentar aumentando a saciedade e/ou reduzindo o apetite. Se a medicação diminui o apetite e/ou aumenta a saciedade, não faz sentido que, ao deixar de usá-la, o apetite aumente e/ou a saciedade reduza?
É importante que você saiba que as medicações tratam, mas não curam a doença. E isto ocorre com inúmeras outras doenças crônicas.
Por exemplo, hipertensos terão sua pressão controlada durante o uso das medicações anti-hipertensivas, mas, se pararem as medicações, provavelmente verão a pressão aumentar novamente. E, quando isso acontece, ninguém diz para um hipertenso que ele não deveria ter iniciado o uso dessas medicações para que não sofresse um efeito rebote. Ou seja, o aumento ocorre pela falta da medicação, já que a hipertensão é uma doença crônica.
Na obesidade ocorre o mesmo, ao pararmos a medicação, na ausência do controle da fome e da saciedade, se voltarmos a comer no mesmo padrão de antes da perda de peso, é bem provável que recuperemos todo o peso perdido, ou até mais, visto que a obesidade também é uma doença PROGRESSIVA (ou seja, tende a piorar com o tempo).
E quais são os estigmas envolvendo a obesidade?
Acontece que, diferente da hipertensão, a obesidade é uma doença cheia de estigmas. As razões para o estigma do peso incluem a difundida (e infundada) crença de que o controle do peso é uma consequência da força de vontade pessoal. Logo, só seria obeso aquele que não tivesse força de vontade suficiente para aderir às modificações de estilo de vida necessárias – como dieta e atividade física.
No entanto, hoje sabemos que isso não é verdade, através da melhor compreensão sobre a fisiopatologia da doença e também sabemos o quanto o tratamento pode ser difícil e frustrante para os nossos pacientes.
Então quer dizer que vou usar medicamento pro resto da vida?
Não necessariamente, mas esteja preparado para que esta seja uma possibilidade. Algumas pessoas conseguem parar a medicação e se manter engajados em uma dieta e em um programa de atividade física adequados, enquanto outras não.
Além disso, para manter-se magro, não basta só ter aprendido a comer de forma saudável, as calorias também terão que estar controladas.
Normalmente o reganho de peso não vai ocorrer somente porque o paciente parou de usar a medicação, mas, sim, porque o paciente também abandonou a dieta e a atividade física.