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Doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica

O que é uma doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica?

  Esteatose hepática é o depósito aumentado de gordura entre as células do fígado (hepatócitos).
 A doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD)* é a doença hepática mais frequente no mundo, atingindo 25%-30% da população. Essa doença está intimamente relacionada ao aumento da prevalência de obesidade e sobrepeso, Diabetes Mellitus e Síndrome Metabólica.
 Os pacientes com MASLD são comumente encaminhados ao especialista por um achado de esteatose hepática observado incidentalmente em exames de imagem realizados por outro motivo ou por alteração de enzimas hepáticas em exames laboratoriais.

* nova nomenclatura para a antiga Doença Hepática Gordurosa não alcoólica

Quais são os fatores de risco para MASLD?

  • Sobrepeso e obesidade;
  • Aumento da retenção abdominal;
  • Diabetes ou pré-diabetes;
  • Hipertensão arterial;
  • Aumento dos triglicerídeos ou do colesterol.

 O consumo de álcool também causa esteatose hepática, especialmente em doses maiores que 20 gramas/dia para mulheres e 30 gramas/dia para homens. Os pacientes que apresentam mais de um fator de risco para desenvolvimento de gordura no fígado (álcool + fator de risco metabólico) são tratados com Doença Hepática Esteatótica Relacionada ao Álcool e à Disfunção Metabólica (MetALD).

Como se classifica um MASLD?

  A MASLD pode ser classificada como esteatose (quando há apenas excesso de gordura no fígado, mas sem inflamação ou fibrose) ou esteato-hepatite (quando há esteatose e inflamação). A esteato-hepatite ocorre em aproximadamente 15% dos casos e também pode alterar exames de sangue como TGO, TGP e GGT. A esteato-hepatite progride para a formação de fibrose hepática, que ocorre em graus progressivos, podendo levar ao último estágio da doença que é a cirrose hepática.

Essa doença causa sintomas?

 Não! É importante ressaltar que mesmo casos mais avançados, em que se identifica fibrose ou até mesmo a cirrose em iniciais iniciais, não costumam gerar sintomas! 

Por que os médicos se preocupam com esse diagnóstico?

 A nossa preocupação em relação a esse diagnóstico é saber que a esteato-hepatite pode gerar fibrose hepática. A fibrose hepática existe em quatro graus, e o último estágio dela é o que conhecemos pela cirrose. Muitos pensam que a cirrose hepática é doença relacionada apenas ao consumo de álcool, mas hoje, nos Estados Unidos, a principal causa de transplante hepático já é a cirrose por esteatose de causa metabólica.
 Outra possibilidade dessa doença é o aumento da chance de desenvolver câncer de fígado, mesmo na ausência de cirrose. Entre os pacientes que desenvolvem cirrose, o risco de câncer de fígado é estimado entre 3-5% ao ano.

 Quais pacientes devem ser rastreados para a presença de esteatose?

  O rastreamento de esteatose com ultrassom de abdômen deve ser feito em pacientes de alto risco, como aqueles com DM2, sobrepeso, obesidade ou complicações metabólicas, história familiar de esteatose ou uso significativo de álcool. 

Se meu exame indica esteatose leve, devo me preocupar?

 Sim, pois a quantidade de gordura não é o determinante no desenvolvimento das complicações, ou seja, nível esteatoso ou apresentou riscos semelhantes. Além disso, pode haver esteato-hepatite mesmo com exames laboratoriais normais.

Quando é avaliado avaliar fibrose?

 Todos os pacientes com diagnóstico de esteatose hepática devem ser avaliados quando a presença de fibrose, que é o principal marcador de gravidade da Doença Hepática Esteatótica associada à Disfunção Metabólica (MAsLD). Os pacientes com fibrose hepática, mesmo em estágios iniciais, são os que têm maior chance de progredir para cirrose.

Como se avalia a fibrose?

  A fibrose deve ser investigada com o exame de Elastografia Hepática para identificar complicações em complicações iniciais, quando ainda são reversíveis.

Como se trata essa doença?

  O tratamento consiste em:

  • Perda de peso: mesmo pesos modestos de perda de peso podem ser impactantes, especialmente naqueles com doença mais leve. Uma perda de peso de 3%-5% já melhora a esteatose, mas uma perda de peso >10% geralmente é necessária para melhorar a esteato-hepatite e a fibrose. A dieta mais estudada para esses pacientes é a dieta mediterrânea, que é baseada em reduzir o consumo de alimentos industrializados ou ultraprocessados, reduzir o consumo de açúcares, vitaminas e carboidratos simples e priorizar a ingestão de frutas, verduras e grãos.
  • Café: O consumo de café, independentemente do teor de cafeína, também pode ser benéfico. Beber ao redor de 3 xícaras por dia pode ser recomendado.
  • Exercício físico: o exercício, independente da perda de peso, tem benefício hepático e cardiometabólico e deve ser recomendado, rotineiramente. Alguns estudos demonstram que o exercício moderado regular, pelo menos 5 vezes por semana, para um total de 150 minutos por semana, pode prevenir ou melhorar a MASLD. Outros sugerem que exercícios mais vigorosos são necessários para melhorar a esteato-hepatite, com exercícios de intensidade ainda mais alta sendo necessários para reduzir a fibrose.
  • Álcool: a abstinência de álcool, particularmente para aqueles pacientes com ingestão moderada a alta de álcool, pode diminuir os riscos de progressão da fibrose e câncer.
  • Medicamentos: em muitos casos há indicação de uso de medicações, por isso é tão importante a avaliação por um especialista. Com tratamento, podemos melhorar ou curar a esteatose hepática.

Existe MASLD em paciente magro?

 Embora essa doença seja comumente associada à obesidade, ela também pode ocorrer em pessoas sem excesso de peso.

 Em comparação com pessoas saudáveis, indivíduos magros com MASLD apresentam aumento da resistência à insulina, comorbidades metabólicas, mais gordura visceral e diminuição da massa muscular. O uso de álcool e alterações no microbioma intestinal também podem contribuir para a instalação dessa doença em indivíduos magros. Fatores genéticos provavelmente desempenham um papel significativo nessa população, como a mutação do Gene PNPLA3.

 O manejo da MASLD em pacientes sem obesidade pode ser desafiador. A recomendação de perda de peso pode não ser apropriada para pacientes magros, mas modificações na dieta e exercícios nesse grupo podem ser benéficos. Pacientes com doença hepática esteatótica que são magros, segundo estudos, apresentam maior risco de progressão para fibrose, cirrose e carcinoma hepatocelular.

Associação da MASLD com doença cardiovascular

 As causas mais comuns de morte em pacientes com MASLD em geral são doenças cardiovasculares (DCV) e cânceres não hepáticos, seguidos por doenças hepáticas. Por isso, o tratamento costuma ser multidisciplinar, envolvendo hepatologista, cardiologista, endocrinologista e nutricionista.

Lembre-se: A ESTEATOSE NÃO É SÓ UMA GORDURINHA NO FÍGADO QUE TODO MUNDO TEM! É UMA DOENÇA E, POR ISTO, DEVE SER TRATADA!

Este texto foi escrito pela Dra Luciana Sampaio Péres (@endocrinoluperes) em parceria com a médica hepatologista Giovana Sartori Dumoncel (@giovana_hepatologista).

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