Como melhorar a constipação causada pelos análogos do GLP-1?
O uso dos análogos do GLP-1 , como a Liraglutida (Victoza, Saxenda), Semaglutida (Ozempic, Rybelsus) e a Dulaglutida (Trulicity) vêm obtendo efeitos muito satisfatórios no tratamento da obesidade e/ou do Diabetes tipo 2. No entanto, a ocorrência de efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia e constipação são extremamente comuns. Geralmente tais sintomas não acarretam a necessidade de suspensão do tratamento por orientação médica, mas, sem dúvida alguma, podem gerar incômodo e desconforto ao paciente que, se não for manejado corretamente, pode abandonar o tratamento em até 12% dos casos.
Recentemente um estudo publicado no Journal of Clinical Medicine (1) propôs recomendações para o manejo dos efeitos gastrointestinais em usuários desta classe de medicamentos. Falando especificamente da constipação, de acordo com o estudo, em geral, 4 – 12% dos usuários de análogos do GLP-1 tem essa queixa, com alguns estudos relatando percentuais bem mais altos, de até 35%.
Quais medidas adotar para evitar ou reduzir a severidade da constipação?
1- Aumentar a ingesta de fibras na dieta é uma medida inicial muito eficaz.
Quais alimentos são ricos em fibras? Diversos alimentos são ricos em fibras, incluindo frutas, vegetais e cereais integrais. Alguns deles são, particularmente, mais ricos em fibras e, por isso, ajudam ainda mais, como é o caso da ameixa, ervilha e feijões.
A ingestão recomendada de fibras gira em torno de 20 – 35 gramas por dia, meta que necessita de um consumo elevado dos alimentos acima citados. Assim, sabemos que, na prática, nem todos os indivíduos conseguem atingir.
Dessa forma, para as pessoas que não consomem muitos alimentos ricos em fibras, uma boa fonte de fibra adicional seria o farelo de trigo, 1 a 2 colheres de sopa, misturadas com a refeição. Além disso, os pacientes constipados também podem se beneficiar com uso de alguns agentes que auxiliam a formação do bolo fecal, como o Psyllium e a Metilcelulose.
Observação: a dose do suplemento de fibra deve ser aumentada lentamente para evitar gases e cólicas e o suplemento deve ser tomado com aporte suficiente de água.
2 - Praticar atividade física regular.
3 - Aumentar a ingesta de água: procure tomar, no mínimo, 30ml de água por quilograma de peso corporal. Ex: uma pessoa que pesa 50kg deve tomar, pelo menos, 1,5L (50x 30= 1.500 ml).
4 - Se, mesmo após essas medidas, a constipação persistir, algumas medidas farmacológicas podem ser adotadas, como introduzir alguma medicação laxativa.
5 - Quando todas as recomendações acima já foram adotadas e, mesmo assim, a constipação persistir, devemos considerar reduzir a dose do análogo do GLP-1 ou trocar por outro medicamento da mesma classe ou por outro de uma classe diferente.
Considere também:
Outro fator a ser considerado é a ocorrência de náuseas e vômitos como efeito colateral dos análogos do GLP-1 no início do tratamento, o que leva a uma redução na ingesta de água e até mesmo desidratação em casos mais severos, o que, sabidamente, contribui para a constipação. Desta maneira, o manejo correto destes sintomas é a orientação de medidas comportamentais e, quando necessário, introdução de medicações que auxiliem nesses sintomas.
Considere também:
Manter a menor dose possível do análogo de GLP-1 para atingir o efeito desejado (perda e manutenção do peso ou controle glicêmico). Adicionalmente, caso o sintoma ocorra durante o aumento progressivo da dose, o estudo recomenda estender o uso da menor dose por mais algumas semanas e evitar o aumento da dose na vigência de sintomas gastrointestinais.
Referência: Clinical Recommendations to Manage Gastrointestinal Adverse Events in Patients Treated with Glp-1 Receptor Agonists: A Multidisciplinary Expert Consensus. J. Clin. Med. 2023, 12, 145.
Este texto foi escrito pela Dra Luciana Sampaio Péres (@endocrinoluperes) em colaboração com o médico proctologista Dr. Pedro Lourenço Borges (@dr.pedrolourencoborges).