Blog

Veja nossas postagens

Aumentar o número de horas de sono pode reduzir a ingestão de calorias?

Atualmente a obesidade é considerada um problema de saúde pública. A epidemia de obesidade parece coincidir com um padrão de privação de sono que vem sendo observado na sociedade nas últimas décadas. Neste sentido, um estudo de prevalência de duração de horas de sono realizado em 2014, demonstrou que, um terço da população dos Estados Unidos não dormia o mínimo de 7 horas recomendadas por noite. Além disso, um estudo realizado no Brasil, mostrou que a qualidade de sono dos brasileiros também não tem sido adequada. Temos evidências relevantes que sugerem que dormir menos de 7 horas por noite está associado à consequências adversas à saúde, inclusive sendo um fator de risco para ganho de peso. No entanto, até a realização do estudo que comentarei hoje, não sabíamos se prolongar a duração do sono poderia ser uma estratégia eficaz para prevenir ou reverter a obesidade.

O estudo

Homens e mulheres de 21 a 40 anos com sobrepeso e uma duração média de sono habitual inferior a 6,5 horas por noite foram recrutados para este estudo.

Após um período de sono habitual de 2 semanas, os participantes foram randomizados para um grupo que aumentaria a duração do sono por mais 2 semanas (grupo de extensão do sono) e o outro grupo que manteria o sono habitual por mais 2 semanas (grupo controle). Aqueles que foram randomizados para o grupo de extensão do sono receberam aconselhamento individualizado sobre higiene do sono e receberam recomendações individualizadas para estender a duração do sono para 8,5 horas.

No grupo controle, os participantes não receberam nenhuma recomendação específica sobre sono e foram instruídos a continuar sua rotina diária e comportamentos habituais de sono até o final do estudo.

Os participantes continuaram suas atividades de rotina diária em casa e não tiveram orientação de seguir nenhuma dieta ou programa de atividade física. Os padrões de sono-vigília foram continuamente monitorados em casa por actigrafia de pulso durante o estudo de 4 semanas.

Objetivo do estudo

Determinar os efeitos da extensão da duração do sono na ingestão de energia, gasto de energia e peso corporal em ambientes da vida real (fora do laboratório) entre adultos com excesso de peso que habitualmente dormiam menos que o recomendado.

Resultados


A ingestão de energia foi significativamente diminuída no grupo que aumentou a duração do sono em comparação com o grupo controle (em média um consumo de 270,4 kcal/dia a menos).

Não houve mudança no gasto total de energia ou outras medidas de gasto de energia.

Quanto ao peso, os participantes do grupo de extensão do sono tiveram uma redução estatisticamente significativa no peso em comparação com os do grupo controle (quase 1kg a menos nesse curtíssimo período do estudo).

Discussão

Neste estudo de adultos com sobrepeso que, habitualmente dormiam menos do que o recomendado, a extensão do sono reduziu a ingestão de energia e resultou em um balanço energético negativo (ou seja, ingestão de energia menor que o gasto de energia).

De acordo com o modelo de predição dinâmica de Hall, uma diminuição na ingestão de energia de aproximadamente 270 kcal/dia, que observamos após a extensão do sono de curto prazo, prediz uma perda de peso de aproximadamente 12 kg ao longo de 3 anos se os efeitos forem sustentados por um longo período de tempo.

Os resultados deste estudo podem ter importantes implicações de saúde pública para o controle de peso e recomendações políticas.

Até onde sabemos, este estudo fornece a primeira evidência dos efeitos benéficos de prolongar o sono para uma duração saudável na ingestão de energia e no peso corporal.

Referência:

Esra Tasali, MD et al. Effect of Sleep Extension on Objectively Assessed Energy Intake Among Adults With Overweight in Real-life Settings A Randomized Clinical Trial. JAMA Internal Medicine 2022;182(4):365-374. doi:10.1001/jamainternmed.2021.

Receba novidades

WhatsApp