Adaptação metabólica: entenda por que cada vez fica mais difícil perder peso

Você já reparou que, a cada nova tentativa de perder peso, o processo fica mais difícil?

O estudo que aqui vou resumir explica o porquê.

Há alguns anos foi ao ar na NBC, um “reality show” chamado “The Biggest Loser”. Nele, participantes com diagnóstico de obesidade competiam entre si, fazendo dieta e exercício físico, mas sem utilizar medicamentos com a finalidade de ver quem perdia mais peso. O que se observou com os dados desses participantes foi que eles sofriam uma “adaptação metabólica” ao longo do tempo, ou seja, a medida que perdiam peso, sua taxa metabólica de repouso lentificava! Esse mecanismo de adaptação ocorre para combater a perda de peso e contribui para o reganho de peso posterior.

O estudo acima referido (referência no final do texto) avaliou as mudanças de composição corporal e da taxa metabólica de repouso dos participantes com obesidade que participaram do programa. Dos 16 colaboradores, 6 homens e 8 mulheres, concordaram em participar do estudo de seguimento. Essas 14 pessoas iniciaram o programa pesando, em média,148kg e perderam, em média, 58kg no final das 30 semanas de competição. Seis anos após o final do programa, eles retornaram para avaliar sua composição corporal e medir sua taxa metabólica de repouso. Nesta ocasião, a maioria dos participantes tinha voltado a ganhar a maior parte do peso.

Os dados do estudo

Taxa metabólica de repouso no início do programa: média, 2.607 kcal/dia.
Taxa metabólica de repouso no final do programa: média, 1.996 kcal/dia.

Após os 6 anos de estudo, com o reganho da maior parte do peso, o que era esperado? Que os participantes voltassem a ter a mesma taxa metabólica de repouso do início da pesquisa, correto? Mas não foi o que aconteceu! A taxa metabólica após 6 anos do programa ficou, em média, em 1.903 kcal/dia. Isso quer dizer que, mesmo após o reganho de peso ocorrido 6 anos após o término do programa, a taxa metabólica de repouso permaneceu tão baixa quanto estava no final do programa – cerca de 500 kcal/dia abaixo do que se esperava baseado nas mudanças de composição corporal dos participantes.

Agora você consegue entender por que fica cada vez mais difícil perder peso após inúmeras perdas e reganhos? Porque sua taxa
metabólica de repouso tende a ficar menor!

Veja a tabela abaixo extraída do estudo

Além disso, verificou-se que os participantes do programa que mais perderam peso ao final da competição, também foram os que mais lentificaram a sua taxa metabólica de repouso. Da mesma maneira, os participantes com mais sucesso na manutenção do peso perdido, também tiveram uma lentificação metabólica maior.

Entenda o motivo da adaptação metabólica

A adaptação metabólica é uma resposta aos esforços vigentes de reduzir o peso abaixo do “set point” considerado ideal. Por razões que não sabemos ao certo, o hipotálamo (área que controla a fome, além de outras funções) de pessoas com obesidade, acredita que o peso mais alto atingido (exceto na gravidez e lactação) é o peso ideal e luta como pode para mantê-lo, aumentando o apetite e reduzindo o gasto energético após a perda de peso.

Importância da vigilância ativa

A obesidade é uma doença crônica (não tem cura), progressiva (tende a piorar com tempo) e recidivante (a maioria das pessoas volta a ganhar peso). Portanto, a perda de peso a longo prazo requer um combate vigilante contra a adaptação metabólica persistente que atua para contrariar os esforços contínuos para reduzir o peso corporal.

Dieta, atividade física, medicamentos, cirurgia bariátrica (em casos selecionados), acompanhamento psicológico e sono de qualidade e quantidade suficientes fazem parte do manejo da doença.

Referência: Persistent metabolic adaptation 6 years after The Biggest Loser competition
Obesity (Silver Spring). 2016 August ; 24(8): 1612–1619.