2022: Recomendação da Sociedade Brasileira de Diabetes para a prática de exercício físico em diabéticos do tipo 2
O Diabetes Mellitus tipo 2 é o tipo mais comum de diabetes. Está frequentemente associado à obesidade e ao envelhecimento. A Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda, como parte do tratamento, o exercício físico.
Qual a diferença entre atividade física e exercício físico?
A atividade física é definida por qualquer movimento corporal que resulte em gasto de energia. Por outro lado, o exercício físico pode ser descrito como uma forma planejada e específica de uma atividade física estruturada, que pode ser classificada quanto ao tipo, intensidade, duração e frequência, com o objetivo de melhorar o condicionamento físico e a saúde.
Sugestão de modalidades de exercícios físicos por níveis de intensidade:
Qual a relevância do exercício físico em pessoas com Diabetes tipo 2 (DM2)?
Para indivíduos diagnosticados com DM, a prática de exercícios físicos proporciona benefícios significativos para a saúde, por isso é considerada uma ferramenta indispensável para o controle metabólico. Os benefícios podem incluir a redução do risco cardiovascular, promoção do bem-estar pessoal, controle de peso, aumento da força e condicionamento físico, redução dos níveis de colesterol LDL e triglicerídeos.
Todo diabético necessita realizar exames antes de iniciar um programa de exercícios físicos?
Para segurança e prevenção de eventos adversos, é fundamental avaliar o risco cardiovascular desses indivíduos. A solicitação de exames para rastreamento universal de doenças cardiovasculares (DCV) em pessoas com DM2 que pretendam iniciar a prática de exercícios físicos NÃO É RECOMENDADA de forma rotineira, exceto se houver sintomas típicos ou atípicos de DCV ou em pessoas de alto ou muito alto risco cardiovascular.
O eletrocardiograma de repouso é considerado um exame básico e essencial e deve ser solicitado em todos os casos relevantes. Em relação a exames alternativos, deve-se avaliar de acordo com o cenário clínico.
O que classifica um paciente como de alto ou muito alto risco CV?
- Diagnóstico de DM2 há mais de 10 anos;
- História familiar de Doença Arterial Coronariana (DAC) prematura ( em mulheres < 65 anos e em homens - Síndrome Metabólica;
- Hipertensão Arterial;
- Tabagismo;
- Neuropatia Autonômica;
- Retinopatia;
- Doença Renal;
- Escore Coronariano de Cálcio > 10 Ag
- Placa na carótida > 1,5mm
- Angio TC de coronária com placa
- ITB< 0,9
- Aneurisma de Aorta Abdominal
- Hipercolesterolemia familiar
- Síndrome Coronariana Aguda
- Infarto ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) prévio
- História de angina (dor no peito)
- História de revascularização (de qualquer artéria)
- Insuficiência Vascular Periférica
- Amputação
Exercícios recomendados:
No Pré-Diabetes
Para indivíduos com Pré-Diabetes que estão em risco aumentado de desenvolver DM2, 150 minutos de atividade física aeróbica de moderada intensidade reduz o risco de desenvolver a doença.
No Diabetes tipo 2
Para pessoas com DM2, a prática de exercícios combinados resistidos (pelo menos 1 ciclo de 10 a 15 repetições de 5 ou mais exercícios, duas a três sessões por semana, em dias não consecutivos) e aeróbicos (no mínimo 150 minutos semanais de moderada ou equivalente de alta intensidade, sem permanecer mais do que dois dias consecutivos sem atividade) promovem reduções significativas da hemoglobina glicada (HbA1c).
Recomenda-se, também, que adultos, especialmente os idosos, realizem exercícios físicos que melhorem o equilíbrio, como tai chi e yoga duas vezes a três vezes por semana.
Em revisão sistemática que incluiu pessoas idosas com ou sem diabetes, o exercício de múltiplos componentes em grupo (incluindo exercícios de equilíbrio e flexibilidade) foi associado a uma significativa redução da taxa de quedas e do risco de queda.
O que é melhor para o DM2? Exercício aeróbico ou resistido?
Em uma revisão sistemática e metanálise, tanto os exercícios aeróbicos quanto os de resistência promoveram redução significativa da HbA1c, em comparação com a falta de exercício. Entretanto, a redução da HbA1c promovida pelo
exercício combinado foi superior.
Por que essa melhora acontece?
Após o exercício prolongado, a captação da glicose permanece aumentada por até duas horas, por mecanismos independentes da insulina, e por até 48 horas, por meio de mecanismos dependentes da insulina.
E quando o objetivo for perder peso?
Com o intuito de obter uma perda de peso mais acentuadas, a quantidade de exercício pode ser aumentada, visando atingir 300 a 420 minutos semanais, o que também previne o reganho de peso.
Reduzir o tempo sedentário também conta!
É recomendado que pessoas com DM2 ou pré-DM reduzam o tempo gasto em atividades sedentárias diárias (como assistir televisão, por exemplo), para reduzir o risco cardiovascular. O ideal é que essas atividades sedentárias sejam interrompidas a cada 30 minutos.
Atenção para os riscos de uso de anabolizantes!
Os praticantes de exercício com diabetes devem ser alertados sobre os riscos associados ao abuso de esteróides anabolizantes e similares: piora do controle metabólico, elevação de colesterol LDL, redução do colesterol HDL , policitemia, hipertrofia ventricular esquerda, cardiomiopatias, arritmias, agravamento da resistência à insulina, hipertensão arterial, trombose, peliose hepática, hiperplasia nodular focal, adenomas e câncer no fígado, além de diversos distúrbios psiquiátricos. Nas mulheres, também podem causar aumento de pelos corporais, acne, queda de cabelo e aumento do clitóris.
Lembre-se da importância da dieta associada
É recomendado que o exercício seja acompanhado de orientação dietética para maximizar seus benefícios glicêmicos.
Referência: 2022: Position of Brazilian Diabetes Society on exercise
recommendations for people with type 1 and type 2 diabetes. Pereira et al. Diabetology & Metabolic Syndrome.